BG

Sábados com sabor

Há qualquer coisa de muito mágico nos sábados, em qualquer sábado.

por Cristina Vaz

leitura de 2 minutos

sabor_detalhe

Há qualquer coisa de muito mágico nos sábados, em qualquer sábado. É aquela sensação de despertar lentamente, sem horas, sem obrigações, é não saber bem o que se passa para depois perceber, numa fração de segundos, em que dia estamos e sorrir internamente, com preguiça e com a sensação maravilhosa que temos 48 horas pela frente para fazermos exatamente aquilo que nos apetece. E a mim apetece-me levantar devagar, mimar as minhas gatas que, já acordadas há algum tempo, deixaram- me dormir até mais tarde. Tomamos o pequeno-almoço sem pressas e sem pressas preparo-me para sair.

Já na rua, inspiro o tempo morno, pouco habitual para uma cidade à beira mar, mas que bem que sabe enquanto pedalo pela marginal a sentir o despertar das pessoas e das rotinas, a minha fiel bicicleta verde, companheira de sábados sem conta, a levar- me até ao mercado com o seu cestinho vazio, mas não por muito tempo.

sabor_1

Cheguei. Mesmo de olhos vendados saberia onde estava. No meu mercado, onde os cheiros assaltam o olfato; as cores são fogo-de artifício para os olhos; o barulho de fundo, tão típico deste espaço, faz-nos olhar em todas as direções, para não perder pitada – apetece levar tudo. Os pés guiam-me de cor e salteado pelas minhas bancas preferidas, até acabar naquela que nunca desilude, a da Dona Emília. Não tem os produtos mais bonitos, mas tem sem dúvida os mais saborosos! Daqui levo os melhores legumes para a sopa, a fruta mais deliciosa para a semana e, como sempre, um miminho especial. Não falha! Hoje são figos… os meus preferidos! Até para a semana Dona Emília!

Não dá para adiar mais, o maravilhoso cheiro de pão acabado de fazer leva-me até a banca do pão onde tomaria outro pequeno-almoço num abrir e fechar de olhos. É que é impossível não abrir o apetite e não fechar os olhos, imaginando o sabor de uma fatia de pão quentinho, mesmo assim, sem mais nada. Na realidade, provo-o ali mesmo, juntamente com uma mão cheia de azeitonas acabadas de comprar. Palavra de alentejana.

sabor_2

O cestinho da bicicleta está quase cheio, só falta o peixe. Do mais fresco que há, chegou há poucas horas do mar – mais um dos privilégios de viver aqui – e mal posso esperar para ver aquele fantástico buffet que ainda cheira a sal e maresia. Na minha cabeça desenho um almoço tão especial, que já só penso em começar a cozinhar. Espero que tenham aquela mistura de frutos do mar que vi noutro sábado, tinha um aspeto divinal. Os meus olhos demoram-se sobre o gelo, não tem aquilo que procurava, mas não faz mal, a escolha é abundante e aquele mexilhão preto e carnudo chama por mim. Mais do que perfeito… sei exatamente o que vou fazer.

Sigo pedalando, o sábado segue logo atrás, envolvendo-me em tudo aquilo que tem de melhor.