
Amor à bolonhesa
Algarve 2001. Verão quente, amor jovem, amor recente.

Algarve 2001. Verão quente, amor jovem, amor recente. As nossas primeiras férias a dois, à descoberta um do outro, à descoberta das coisas boas da vida, à descoberta da própria vida. Praia, natureza, diversão, cinema, caipirinhas, festas populares, vinho rosé, noites ao luar… Descobri que tudo sabia melhor partilhado com ele. Também descobri que o Luís sabia cozinhar. E bem. Com direito a ritual e tudo.

A melhor carne, escolhida e picada na hora, vem embrulhada em frescura. Os tomates maduros e no ponto vêm com cheiro a terra. A massa? Apenas a melhor, vem com a certeza que esta receita é infalível. As cebolas brincam com os olhos; as mãos descascam cuidadosamente os tomates; passando rapidamente para o alho, que é cortado de forma tão fina que se torna praticamente invisível – mas apenas ao olho – como ele aprendeu, não com um chef conceituado, mas com o filme “Tudo Bons Rapazes”, carregado de segredos culinários. Sim, porque a inspiração para grandes e pequenos pratos está em todo o lado. Mas voltando à cozinha do nosso goodfella Luís: o refogado quer-se lento e apurado, borbulhando apaixonadamente, qual borboletas no estômago. Com a carne e o molho em namoro pegado, inundam tudo com um aroma inconfundível, daqueles capazes de nos transportar de volta a este preciso instante, 20, 30, 40 anos depois.

A energia na cozinha muda, chegou a hora de cozer a massa. Uma panela espaçosa, com água abundante e já salgada, ferve – ai as borboletas no estômago! – pronta para receber a massa que, depois de um primeiro contacto arrebatador, é embalada em lume brando até estar al dente. No ponto. É esvaziada de água, mas envolvida com o molho. E o molho? Come-se às colheradas! Está quase, quase. Segundos antes de sair da cozinha, soltam-se generosamente os orégãos e o queijo ralado, que abraçam calorosamente este maravilhoso esparguete à bolonhesa. Juntos, só assim faz sentido. Vamos para a mesa.
Duas horas depois jantamos. Sabemos que os melhores rituais demoram o seu tempo e que tudo o que é feito com amor também. Até porque o Luís tinha uma mulher para impressionar. Um dia alguém escreveu “a comida simboliza o amor quando as palavras são inadequadas” – o que poderia muito bem ser a legenda daquele jantar naquela noite quente de Verão, daquela deliciosa memória, daquela que seria a primeira de muitas bolonhesas perfeitas. Estou impressionada. Estou apaixonada.
São rituais que o tempo não apaga, apenas matura. De namorados passamos a marido e mulher, continuamos à descoberta do mundo, dentro e fora da cozinha… mas ninguém nos tira este primeiro amor, este amor à bolonhesa. Peguem numa taça de rosé bem fresco e brindemos.